20 de ago. de 2013

Então? vamos falar de cinema?! - "Meu Tio e o positivismo

Meu Tio

Diretor: Jaques Tati
Duração: 1h 50min
Elenco: Jacques Tati, Jean-Pierre Zola, Alain Becourt, Lucien Fregis, Betty Schneider

Meu Tio é um filme ítalo-francês, dirigido por Jaques Tati. Se passa em 1958 e conta a história de Hulot, um solteirão. O filme é uma crítica ao positivismo. Uma corrente filosófica criada por Augustus Comte (1798-1857), que defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. Segundo os positivistas uma teoria só pode ser comprovada por métodos científicos.

O moderno e o tradicional se encontram em vários momentos do filme “Meu Tio”. Hulot_ o tio, que pode ser visto aqui como o lado tradicional, levava uma vida normal na periferia da cidade, onde as pessoas tinham pouco contato com a tecnologia, um cenário do filme que é mais colorido e movimentado. Hulot, ao contrário da família de sua irmã, que vivia na parte rica da cidade, cercada por tecnologia, tinha um comportamento mais espontâneo, que era refletido em seus gestos e suas roupas.

Tati faz uma crítica ao mundo moderno, quando mostra a vida da família Arpel, onde o cenário é monocromático, mecânico, frio e vazio. Esses traços transpareciam no comportamento do Sr. e da Srª Arpel, que eram totalmente dependentes da tecnologia. Essa crítica feita pelo diretor, se refere também ao positivismo (que acredita que a sociedade funciona de forma mecânica linear, esquecendo-se das variações e contrastes existentes nelas), uma vez que no filme as personagens ricas, eram altamente dependentes da tecnologia e viviam todos os dias da mesma maneira, exergando essa rotina mecanizada como o único modo bom e correto de se viver.


Essa modernidade excessiva acabava interferindo na comunicação entre as pessoas. Assim, acontecia na família de Gerárd. Seus pais praticamente não dialogavam e quando isso acontecia, os ruídos provocados pelos aparelhos super modernos que eles possuíam_ como o aspirador de pó, o fogão automático, o aparelho de barbear elétrico, entre outros, acabavam por impedir que eles interagissem. Em contraposição a falta de interação humana, a comunicação no filme, ganha um novo significado, como na afirmação da Srª Arpel que diz que “todos os cômodos da casa se comunicam”.

Em muitos momentos do filme, é possível ver que a tecnologia exagerada usada pela família Arpel, torna-se um elemento, que ao invés de melhorar a vida acaba por gerar um transtorno para eles. Como por exemplo na cena em que a Srª Arpel dá um portão de garagem automático de presente de aniversário de casamento para o marido. Esse portão se abre através de um sensor de movimento, no entanto ao demonstrar para o marido como o portão funciona, os dois ficam presos dentro da garagem, uma vez que este só se abre por fora.


A trilha sonora do filme também mostra o contraste entre os dois cenários_ moderno e tradicional. Nas cenas da periferia as músicas são sempre animadas ao passo que na cidade moderna os sons que se percebem são somente aqueles produzidos pelas máquinas.

Os cachorros um elemento fundamental no roteiro, tinham forte relação com a interação entre Gerárd e seus amigos. No entanto, uma vez que vivia em sociedade Gerárd agia de forma consciente e não por instinto. Ou seja a viver em sociedade é negar o natural.

Outro contraste facilmente identificado no filme é percebido na relação entre as ruínas e os prédios que podem ser entendidos como a modernidade ruindo com o tradicional.

Para Gerárd, seu tio Hulot, era muito mais interessante que seus pais. Seu tio era descontraído, engraçado e despreocupado, o oposto do pai que estava sempre preocupado com as regras e a mãe que tinha obcessão por limpeza, além disso tinham um comportamento todo mecanizado. Gerárd também vivia entediado com seus brinquedos em casa, preferindo as brincadeiras com os meninos da periferia, uma vez que estas fugiam as regras de sua rotina mecanizada.

Jaques Tati consegue mostrar em “Meu Tio”, o que a mecanização pode fazer com a vida das pessoas que se entregam totalmente a ela, fazendo que passem de seres humanos à máquinas.

Trailer - Meu Tio

Espero que curtam a dica de cinema de hoje. Assistam e reflitam!


Kiss bye!




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